quarta-feira, 19 de março de 2014

Que a vida cuide de você, minha amiga...

Querida amiga,

Você lembra? Quanta coisa juntas...
Durante toda a minha vida estar com você sempre fez parte da minha vida não como um descanso, uma pequena diversão, mas sim como uma grande e verdadeira necessidade. Estar com você, contar sobre mim, escutar sobre sua vida, planejar coisas juntos sempre me deu uma alegria e uma satisfação que poucas coisas na vida conseguiram oferecer. O Miguel sabe e viveu na própria pele a dor que eu sentia quando estava na Espanha e não podia ter você a meu lado... eu sentia uma falta enorme de alguém que me procurasse, que sentisse a necessidade de estar comigo, de alguém que ia sentir minha falta se eu me ausentasse de algo, ou de uma pessoa que estaria do meu lado quando eu precisasse desabafar. Lembro de um feriado, cheio de festa e acontecimento lá em Sevilha, e por ser seu aniversário e eu estar longe, chorei e chorei, sentindo a dor da saudade.

Chorei por saber que você se casava e eu estava longe e sofri quando soube que, assim como eu, você tinha se tornado mãe. Em parte porque você não me viu barriguda e não pôde fazer uma chá de bebeê para mim... Eu estava enrolada em uma toalha do corinthians, lembro bem, quando soube que sua filha nasceu. E depois, quando o Luismi estava abrindo caminho para vida, estive com o colar que você me deu, segurando forte a cada contração, como se com ele eu caregasse todas as amigas que eu queria que estivessem comigo do meu lado.

Depois que voltei ao Brasil as coisas melhoraram e muito... pude ver seus filhos crescerem, conheci seu apartamento novo, você me levou para a fazenda e cavalgou junto com meus filhos. Você fez uma festa junina especial só para a criançada e teve coragem de ir com meus dois filhotes, mais seus outros dois filhotes, um de menos de 6 meses, passear no shopping para procurar uma livraria. Pudemos estar juntos, fazendo piqueniques gostosos, almoços, jantares, eu dei mamadeira para sua filha e coloquei ela para dormir... Juntas, nós pudemos formar um grupo gostoso de amigas, compartilhamos segredos, encontramos alívio para as coisas que não entendíamos, e junto com você, encontrei tantas amigas, uma delas, pura poesia, a outra, axé dos pés a cabeça, uma companheira, outra pura sintonia... tantas coisas juntas em um só grupo de amigas.

E no meio de tudo isso amiga, saímos para comer juntas, em um mexicano, com nossos amigos de tantos, tantos anos... amigos de toda uma vida. Rimos, abrimos convites de casamento, e celebramos a vida. Vida. E veio o que veio, veio o 15 de novembro.

Minha amiga querida, desde aquele dia, acho que talvez você sinta o mesmo que eu... desde aquele dia você nunca mais me encontrou... e eu também. Sim, você esteve ali comigo. Você estava lá, com seus braços para me segurar quando meu pai se foi, e não me deixou cair no chão. Largou tudo o que estava fazendo no meio de um feriado e foi na Polícia Federal. Você me abraçou, comprou um sanduíche para meu pai, segurou a minha mão e escreveu em um cartaz que meu pai é inocente. Seu marido quase saiu no tapa com a rede Globo para defender minha família e você me deu uma água abençoada de Aparecida do Norte. Você me olhou dizendo sem palavras: eu estou aqui... você cuidou dos meus filhos, cuidou de mim, me recebeu na sua casa, aguentou meu choro e mesmo vendo meu rosto desfeito, sorriu para mim e disse: que bom te ver. Minha amiga... sei que em muitos momentos foi difícil estar do meu lado, vendo uma dor tão materializada, mas você ficou comigo, sentadinha do meu lado, durante uma pizza com amigas, na festa da firma, em um sofá cheio de confissões.

Mas amiga, eu não estive aí para você... não pude te ajudar a decidir se aceitava uma promoção especial e linda no seu trabalho, não estive pronta para ouvir suas dificuldades, faltei em encontros e deixei de estar com você naquela festa do seu filho. Amiga, que dor eu sinto quando penso que no dia do seu casamento eu estava com o coração em fragalhos e não pude sorrir como você merecia... Eu esqueci o seu aniversário, não respondi o seu e-mail e meu facebook apenas mostrava as minhas injustiças. Eu não comentei as fotos dos seus filhos, não curti tudo o que eu queria curtir, porque não conseguia entrar, estar presente, ver a sua vida, sua tão importante vida...Quando você me ligou, eu não atendi, quando você precisava de mim, não pude te ajudar, porque você sabia que eu não conseguiria te ajudar muito... E por isso amiga, eu sinto muito, muito.

Você às vezes me falou: que guerreira! como consegue dar conta de tanta coisa? Pois bem... eu não consigo... tenho conseguido trabalhar, cuidar dos filhos e ir para Brasília cuidar dos meus pais. Mas não estou conseguindo cuidar de você, de nossa amizade. E vou vendo isso à distância, sofrendo, mas sabendo que ainda vai demorar um pouco para isso passar e esperando do fundo do coração, que você entenda. Que quando isso tudo se acabe você ainda sinta minha falta. Que ainda queira me contar suas coisas, que volte a me chamar para comer um bolo, ops, não, uma torta salgada, na sua casa. Espero que ainda confie em mim para pedir um conselho, compartilhar uma alegria, pedir ajuda para organizar uma festa de aniversário. Eu espero do fundo do meu coração, que a vida cuide de você minha amiga, que são tantas amigas, enquanto eu não posso cuidar de você... e que saiba que ainda me importo muito com nossa amizade, mas simplesmente nesse momento não posso provar isso a você do jeito como eu gostaria.

Espere de verdade, que eu vou voltar.

Um beijo... te amo.

Mi