Meu querido presidente Lula,
Não sei ao certo quando conseguirá ler esta carta, mas
escrevo com a esperança de que a história que vou te contar, possa um dia
chegar até você levando toda a beleza que leva consigo.
Como deve saber, no mesmo ano em que meu pai sofreu seu
grande drama político, no ano de 2005, eu e meu namorado espanhol decidimos nos
casar e morar em Sevilha, Espanha. Foi uma decisão dura, difícil, ainda mais quando vi
que teria de comunica-la justo no momento em que meu pai tão querido e tão amado tinha perdido tudo e se
encontrava sem rumo. Surpreendentemente, foi ele a pessoa que mais me ajudou. Não fraquejou em nenhum momento,
conseguiu mostrar-se feliz por me ver em busca de minha felicidade e enquanto
minha mãe e meu irmão choravam pela minha partida, ele
dizia: “Vou sofrer, mas sei que você vai ser feliz. Um dia eu também deixei
tudo e saí de casa e sei como é quando o destino coloca a gente diante de uma
coisa assim.”. E aí esteve ele, meu “Genoino” pai, ajudando-me e apoiando-me em
tudo, justo quando ele estava passando pelo momento mais difícil de sua
carreira política.
Foram meses de muitas emoções encontradas, por um lado a
alegria de realizar meu grande sonho, casar com um grande amor, e por outro o
medo, a tristeza e muitas vezes a culpa, de deixar minha familia em um momento
tão delicado. Mas sempre meu pai
esteve aí, conseguiu fazer com que minha mãe e meu irmão embarcassem comigo na minha decisão, conseguiu sempre trazer palabras
positivas e esteve comigo, fisicamente, mais do que nenhuma vez em nossa vida
de pai e filha. Sabe Lula, você bem sabe, meu pai se fechou para o mundo,
desiludido com a política, com os jornalistas, com a vida. Mas nunca se fechou
para nós, para sua familia. Nesta época passamos muitos momentos duros, dificultades
financieras, escarnio público (quando o programa “Pânico” fez seu show na porta
de minha casa), meu pai só queria estar em casa, mas soubemos vencer as
dificuldades, minha mãe dizia que meu casamento até
ajudou, porque levou a mente de todos nós para algo bonito. E naquela época,
foi uma das únicas coisas que fazia meu pai reagir e tomar providências, como
quando mesmo sem nunca sair de casa, se dispôs a ir comigo no Consulado da
Espanha às 6 da manhã para esperar comigo na fila
para o visto.
Bem, em janeiro de 2006 eu deixei o meu, o seu, o nosso
Brasil. Foi duro, mas de certa forma bonito, porque eu estava deixando tudo,
trabalho, familia, amigos, por um grande amor, aquele amor que a gente só
encontra uma vez na vida. Em março deste mesmo ano me casei aqui na Espanha e
felizmente meus pais vieram para cá e meu pai deu-me seu grande presente, que
foi entrar comigo na igreja, levando-me até o altar. Vivemos momentos bonitos,
mas meu pai naquele momento ainda não
estava totalmente bem, ainda mais porque estava meditando sobre se voltar ou não ao panorama político por meio de uma
candidatura a deputado federal. No fim, quase na mesma época em que descobri
que estava grávida, outro grande sonho que eu levava em meu coração, meu pai decidiu que tentaria sua
candidatura.
Eu, que sempre vivi todas as eleições pintada dos pés à cabeça
com estrelas do PT e fotos dos candidatos, desta vez passei por todo este
processo à distância, sem poder ajudar, apenas apoiando e acompanhando. Sofria
nem tanto por não poder votar, já que depois
do que aconteceu com meu pai eu tinha decidido que só votaria de novo nele e em
você Lula, tal era minha desilusão, mas sofri em ter que acompanhar
tudo de longe, sem estar lá para apoiar a toda minha família. Meus pais me
contavam da expectativa, da possibilidade de uma vitória sua no primeiro turno,
eram muitas as emoções encontradas e sabíamos que existia muita coisa em
jogo.
Quando chegou o dia da votação, eu, grávida de 8 meses, estava uma
pilha de nervos. Por culpa do fuso horário tive que ficar acordada até as 5 da
manhã para saber o resultado.
Jamais esquecerei aquele telefonema. Era meu pai, falando feliz, porém sereno,
que sim, que ele tinha conseguido ser eleito. Eu só conseguia chorar, chorar e
chorar. Nossa felicidade foi imensa, eu sabia o quanto aquela eleição era importante para todos nós,
pensava que agora chegava o momento da volta por cima do meu querido pai e
pudemos respirar aliviados olhando o recomeço com otimismo.
Mesmo assim, em um dos muitos telefonemas, meu pai
confessou-me que sua felicidade não era completa pois estava
preocupado com a sua reeleição, Lula, que no fim não pôde concretizar-se no primeiro
turno. Desde o momento em que soube que existira um turno mais, para meu pai só
existia isso, ele só falava disso e estacionou toda a emoção de ter conseguido ser eleito, para
dizer um dia após o outro, “temos que eleger o Lula, Mimi…”. Foi em um destes
dias que tive minha intuição.
Perto da votação
do segundo turno, depois de uma destas conversas nas quais meus pais contavam
como iam as coisas, os debates, as discussões, o medo, a esperança de uma reeleição, senti fortemente que para meu pai não era suficiente ter sido eleito
deputado federal. Para ele conseguir lavar a alma, superar tudo, ele queria ajudar
a eleger você Lula, como nosso presidente. Eu acho que você foi o político que
conseguiu manter, mesmo nos momentos mais duros, a esperança e a confiança do
meu pai na política. Ele sofreu muitas decepções, abandonos, desfeitas, mas
nunca conseguiu desacreditar totalmente a política ou os políticos porque sabia
que você seria alguém por quem ele sempre lutaria e batalharia.
Como dizia, em um destes dias, rezei fervorosamente para
que Deus te ajudasse a ser eleito, e mesmo sem saber se isso um dia aconteceria,
prometi, ainda grávida da minha filha, que se você ganhasse as eleiçoes e eu
ficasse grávida de novo e fosse um menino, se chamaria Luís, em sua homenagem.
Graças a Deus e ao povo brasileiro você ganhou, e eu, meu pai, tanta gente,
pudemos respirar aliviados.
Minha filha Paula nasceu em novembro de 2006 trazendo
paz e felicidade para todos nós. Ela veio para mostrar que tudo o que fizemos,
tudo o que lutamos, os sacrificios vividos, o apoio dos meus pais para uma vida
longe da filha, tudo tinha sentido e valia a pena.
Um ano e meio depois, no dia 8 de junho de 2008, nasceu
nosso segundo filho, um menino, como não
podia deixar de ser, e chamado Luís.
Meu marido Miguel pediu para que o nosso filhote se
chamasse não só Luís, mas sim Luís
Miguel, e nós hoje o chamamos carinhosamente de Luísmi. Ele é um bebê
abençoado, iluminado, calmo e tranquilo que parece ter vindo como um presente
de Deus para que todos sejamos felizes e transmitindo muita paz e alegria. É um
bebê lindo, sorridente e de bem com a vida, e desde o momento em que o vi pela
primeira vez, soube que não poderia ter escolhido melhor
forma de homenagear ao meu presidente Lula.
Foi por isso Lula, que quis contar esta história. Queria
que você soubesse da existencia do nosso Luís, da homenagem feita, da realização de um sonho e de um caminho longo
que, ainda que muitas vezes duro, nos trouxe recompensas gratificantes e
imensamente felizes. Eu criarei meus filhos longe do meu país, mas eles serão espanhóis também brasileiros e
carregarão esta identidade com
oprgulho, espero. Por isso me emocionei ao ver a certidão de nascimento deles legalizadas no
Consulado do Brasil na Espanha e por isso sempre que pudermos, iremos ao Brasil
mostrar suas raízes, uma parte de sua cultura.
Mas especialmente, Lula, criarei meu filho para que
sempre faça jus ao nome que carrega, ao homenajeado que se encontra em sua existência,
para que seja um ser-humano como o que vejo no presidente que presenteou o nome
do meu filho: íntegro, justo, otimista, lutador e de bem com a vida.
Lula, se você chegou até aqui, muito obrigada por ler
minha palavras, por conhecer a minha história e desejo de coração toda felicidade, força e paz do
mundo para você e toda sua familia.
Um beijo carinhoso, Miruna
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